quarta-feira, 2 de setembro de 2009
Flores de plástico... pois, morrem!
E se nada mudou e por lá passo, me lembro.
E a remota lembrança de qualquer coisa em você... e o desprezo e decepção por ter te conhecido, tudo isso vive, ainda, e volta.
Diria ter entrado em um jardim. De fora parecia tão florido e colorido. Mas por dentro, tudo cinzento e meio escuro. E, chamada por uma espécie de curiosidade incontrolável, um fascinio pelo seu cinza... entrei.
Foi alguma espécie de feitiço ? Me convidou a participar do seu mundo e ficar ao seu lado e me afundou no mesmo poço em que você estava imerso, sem saída.
Na minha fantasia eu podia resgatar esse cinza com o qual me deparei ao te conhecer... Estive buscando alegria num poço sem fundo... e durante tanto tempo tentei tanto, e tanto ...
E se por apenas um minuto que seja, esse "pós entendimento" (tárduo) tiver me permitido ter um olhar mais civilizado e distanciado, então agradeço a quem tiver me possibilitado tamanho alivio. Afinal, quando se beira esse estado de solidão e loucura, um mundo tão avesso e podre, ruim e venenoso... o desespero por tocar algum tipo, qualquer tipo, de racionalidade é tão grande, que acredita-se no que for mais conveniente e menos doloroso.
Depois só busquei entender alguma coisa...qualquer coisa. E se o sonho ainda vem e a ferida ainda é profunda, sei que ainda preciso de repsostas.
E mesmo que eu cavasse o resto da minha vida, nunca encontraria nada em você... nem um pingo de solidariedade ou generosidade. Um minimo de sinceridade que fosse. Ou maturidade consigo mesmo já teria sido suficiente. Vazio...oco.
Por que buscar algo onde sabe-se que não há nada de bom?
No meu sonho posso escapar quando eu quiser... Simplesmente viro as costas e vou embora, como muitas vezes eu quis fazer e não pude.
Com você, há essa espécie de "condição", de "dependência" que te acompanha.
E no meu sonho, frente a todos os fatores que te condicionam, faço de conta que estou dormindo. Cerro os olhos e espero passar... como tantas vezes eu realmente fiz !
A rua, a padaria, as pessoas, os prédios ainda estão lá... mas lá, nunca houve nada, nem ninguém.
Flores bonitas não nascem em jardins onde o sol não bate... e se nascem, não vivem por muito tempo !
Flores de plástico, como você, pois... morrem!
Lisa Elkaim
quinta-feira, 18 de junho de 2009
Jornalistas do Brasil: UNI-VOS !
A comparação feita ofendeu muitos jornalistas, devido ao tom de ironia.
O jornalista é necessário na vida das pessoas e tem uma missão a cumprir com a sociedade. Não se resume apenas a um contator de histórias pois exerce verdadeira influência sobre a opinião pública. E é justamente por saber de sua importância que não se pode negar a este profissional seu devido espaço e sobretudo, seu reconhecimento.
No Brasil e em vários países do mundo, realmente, não precisa ser jornalista (ter o diploma de 'comunicação social com habilitação em jornalismo ' em mãos) para escrever num jornal. E isso acontece porque prefere-se que as pessoas tenham propriedade para falar e escrever num jornal. Isso manteria a qualidade e credibilidade do meio.
E é verdade também que hoje em dia, com o avanço da internet e das ferramentas que ela oferece de publicação... muitos podem ser "jornalistas".Perde-se assim um pouco do controle... mas não a credibilidade, a ética, o compromisso, a paixão e acima de tudo o dever de servir á sociedade.
Isso não são técnicas aprendidas e decoradas...Mas são conceitos que os quatro anos de formação nesta profissão tentam passar aos estudantes.Além disso, e de forma mais prática, claro que todas as profissões aprendem-se no dia a dia.
E no jornalismo não haveria porquê ser diferente.Ninguém há de nos convencer que economistas e jornalistas escrevem da mesma forma.
O lado bom disso tudo, é que talvez essa medida leve o jornalista de hoje a se especializar mais, estudar mais... se empenhar mais, para não perder seu posto.
Mas a profissão tem sofrido grande desvalorização no Brasil e a chance desse cenário piorar é cada vez maior. Salários mais baixos, cargos mais disputados (e por outras profissões também)!
Então aqui vai um chamado a quem ainda acredita e tem compromisso com sua profissão (mesmo os estudantes, pois este escolheram esta profissão e sabemos, que não é facil...): Não se deixem abater, pois a população tem direito á informação de qualidade. Então que isto sirva apenas para nos unir e fortalecer. Empresas jornalisticas que acreditam no nosso trabalho e no nosso suor ainda exigirão diploma e nos diferenciaremos assim, pelo que somos e pelo papel que desempenhamos!
JORNALISTAS DO BRASIL, UNI-VOS!
Leia neste Blog: Jornalismo em pauta - a regulamentação e debates (Publicado em ourubro de 2008)
A seguir, um trecho de uma reportagem de Lisa Elkaim, para o porfessor Senise (Universidade Anhembi Morumbi) em outubro de 2008:
Segundo Nivaldo Ferraz, para ser jornalista, há uma formação de base e conhecimentos teóricos que somente a universidade poderá oferecer. O candidato deve vir para a faculdade de jornalismo preparado « o curso não ensina a escrever bem, isso é nato. Tem de haver vontade, esforço e talento inicial. Depois a faculdade vai oferecer as ferramentas teóricas ». Ele afirma ainda que a diferença essencial, no meio dessa disputa entre quem tem e quem não tem diploma de jornalismo, é a capacitação em nível superior. Nesse sentido, tratando-se de novas mídias digitais, haveria uma adaptação por parte das universidades que procuram adequar seus cursos à demanda no mercado. « Sempre há espaço para o aluno que não tem interesse em trabalhar com tecnologia, mas não se pode ignorar o grande avanço e influência exercida sobre o jornalismo. Assim, a capacitação teórica e a tendência de mercado andam de mãos dadas nas universidades mais atualizadas », diz Nivaldo.
Já o jornalista e escritor Henrique Veltman, entrevistado online em 22 de outubro, defende que uma formação de nível superior é desejável, mas a formação no curso de jornalismo seria dispensável. « Nossas escolas de jornalismo (comunicação) são ruins. Acho preferível o candidato cursar Direito ou Ciências Sociais, por exemplo ». Ele explica que alguns dos mais importantes jornais e revistas já não exigem o diploma de jornalismo e cita como exemplo o jornal Folha de São Paulo.
Nota Bene:
A Folha de São Paulo, publicou nesta quinta feira (19 de junho de 2009) - um dia após a decisão do Supremo Tribunal Federal :"A Folha sempre criticou a exigência do diploma. No editorial 'Imprensa no STF' de abril deste ano, sustentou a posição de que a obrigatoriedade do diploma afronta a liberdade de expressão, diminui a oferta de informação de qualidade e se reveste de anacronismo na era da internet "
Por, Lisa ELKAIM
quarta-feira, 17 de junho de 2009
Contra a falta de liberdade de expessão: a tecnologia
(Leia neste Blog: Mucho gusto, me llamo...CUBA LIBRE)
O uso da tecnologia representa uma ferramenta que atravessa fronteiras, permite que qualquer um escreva - seja em forma de diário pessoal, com textos, fotos e vídeos de caráter pessoal ou para fazer jornalismo.
E jornalismo consiste apenas em dar noticias frescas?
Bom, para mim, jornalismo é um conceito (e uma prática) muito mais abrangente.
(leia o texto publicado neste Blog: Quando eu crescer...NAO quero ser como você).
Jornalismo é aquilo que é escrito (por alguém que entenda e alguém que saiba escrever - dois em um, na mesma pessoa... é raro, mas existe) sobre algum assunto da atualidade ou que crie debate ou ainda, que seja de dificil compreensão e/ou conhecimento de poucos e que precise ser esclarecido, explicado...
Precisa ser jornalista? Não necessariamente. Mas é desejável... dada a credibilidade de sua função.
Outros textos (desbafos, crônicas, etc) são jornalismo? Não. São desabafos, crônicas, romances, etc. Mas têm o desafio de carregar uma opinião...
Cabe escrever esse tipo de texto de texto no jornalismo...? Hum, ai é que está. Depende.
O Blog da cubana Yoani Sanchez, por exemplo, consiste em desabafos, certo? Conta histórias, retrata a realidade, vista por ela, em Cuba, etc certo? Portanto, tem caráter jornalistico, apesar de serem apenas "desabafos". O que ela escreve não é noticia... e a realidade de Cuba, em relação à falta de liberdade de expressão e repressão do governo, não é novidade, nós já conhecemos. O "inédito" é ter alguém que se ariscou a falar diante da falta de liberdade de expressão e de uma realidade de censura e opressão. O desafio é manter-se, insistir, se fazer ouvir ou ler. E dizer o que se pensa nem sempre é aceitável.
No caso do Irã, por exemplo... os votos apurados re-elegeram Ahmadinejad como presidente. Acusações quanto a estas apurações sustentam que houve fraude.
Fraude ou não, o fato é que uma parcela da população demonstrou, em manifestações, o seu descontentamento. A televisão iraniana não divulgou as imagens das passeatas em favor do candidato adversário. E o governo proibiu o trabalho de jornalistas estrangeiros.
A população recorreu à internet: blogs, videos amadores feitos pelo celular, twitter... Tudo que se pode imaginar através da tecnologia.
É jornalismo... sem ter sido escrito por jornalistas, retarata a realidade de um país e ainda por cima é atual, então acaba por ter caráter noticioso na medida em que um jornalista não poderia fazê-lo por ter sido empedido de trabalhar no Irã.
Jornalismo é assinar a história, fazer parte dela - vivendo, contando, compartilhando, observando, fotografando.
E através da tecnologia, uma única mensagem: o povo não deve se omitir nem se calar jamais!
Por, Lisa ELKAIM
sábado, 13 de junho de 2009
Um homem que ama... sua mãe.
Moro com minha mãe. Tenho animais de estimação... dois gatos. Antes de chegar em casa, costumo passar no supermercado. Mamãe gosta que eu compre as frutas do dia ou legumes para fazer sua sopa. Sou bom filho. Fico em casa somente o tempo necessário de fazer um pouco de companhia a ela, estou sempre cuidando dela e ouvindo o que ela tem a dizer ... é uma mulher muito sozinha, mas gosta de falar, de ser ouvida. Gosto de ser sua platéia. Ela hoje só tem a mim.
Tomo banho e para relaxar um pouco saio sempre por volta das 21h. Vou sempre a este mesmo bar, no centro. Pego um trem para chegar até lá... demoro 35 minutos. Quero distrair...
Enfim, isso é o que eu costumo dizer. Perto das 22h, sou irreconhecivel.
Chego antes de todos, para ter tempo de me arrumar. Gosto de entrar sozinho. E naquela sala cheia de luzes, fico sentado no bar... é meu primeiro whisky, tenho uma porção de coisas a esquecer. Uma mulher morena senta ao meu lado e pergunta se posso lhe pagar um 'drink' e eu respondo... não. Todas elas levantam-se do bar chateadas por eu me negar a oferecer uma bebida.
Não é que eu não seja cavalheiro... mas eu não as suporto. São interesseiras. Enganam.
Não há espaço para mulheres na minha vida.
De qualquer jeito, mesmo que eu oferecesse o tal 'drink', não demorariam muito a perceber que não tenho interesse algum. Não tenho nada a oferecer. Sou um homem muito dedicado à minha própria vida e questões.
Levanto do bar e caminho diretamente em direção ao camarim. Lá está ela.
Ela sim é fiel e me espera sempre no mesmo horário... e agora são quase 23 horas. Ela está ali, deitada no sofá... tem tanto brilho, parece sorrir para mim e sussurar no meu ouvido a sua solidão, dependência. A saudade que tinha de mim...
Com cuidado, eu a coloco sobre minhas pernas grossas... meu terno elegante não há de se amassar. E a esta altura, já não me importo. Eu a aperto entre meus braços... cheiro... também sinto sua falta. Penso nela o tempo todo durante meu dias agitados. Não vejo a hora de estar lá, inteiro para ela.
Há barulho lá fora... ouço passos. Levanto para trancar a porta e então começo a acelerar as coisas. Procuro um estojo, quando sou interrompido... batem na porta.
- Querida, está tudo bem?
- Sim - ela responde.
A pessoa, intrometida, vai embora... ouço seus passos se afastando do meu camarim. Já estou a sós novamente. Preciso ser rápido... todas as oites é tudo tão rápido! Exceto pelo trajeto de trem, é a parte mais difícil...quando me despeço.
Mas onde eu estava? Ah! Sim... procurava por um estojo.
Sento-me diante do espelho e repito como quem tenta se convencer de algo (todas as noites), que sou um artista e sou bom no que faço.
Uma vez maquiado, ainda me sinto eu mesmo... falta o cabelo (uma peruca loira belissima) e ela, que continua ali no sofá: minha roupa de estréia. E eu estréio todas as noites... todos o dias são iguais, é verdade. Mas as noites, são a cada vez, como se fossem a primeira!
Mais uma vez interrompido... batem na porta para avisar que tenho cinco minutos. A contagem regressiva começa... meu coração parece estar na boca!
Lembro-me de mamãe... faço uma oração para que ela esteja dormindo em paz. Destranco a porta.
Subo no palco, há uma espécie de cortina que mostra apenas minha sombra. E ao som da música, ela aparece...uma verdadeira diva. O show consiste num streep-tease. A sala está escura e diante de mim consigo enxergar alguns olhares perplexos e outros admirados...talvez desacreditados.
Minha roupa, tão cheia de brilho... uma verdadeira robe de soirée, muito elegante, um vestido longo, vermelho, de frente única.
Era o vestido de mamãe. Ela costumava usar em sua juventude quando precisou trabalhar em um cabaret, cantando... para ajudar nas despesas de casa.
Seu pai era um homem muito duro... tenho poucas recordações dele. Mas ainda guardo na memória algumas histórias que ouvia quando menino. Ele gostava de mostrar quantas despesas ele tinha por causa de caprichos de suas filhas.
Mamãe cantava neste cabaret até que seu pai descobriu o que mais ela fazia por lá...
(e ele... o que fazia? há questões na vida que é melhor não cutucar).
Saber e conhecer essa mulher batalhadora que foi minha mãe e voltar para casa, encontrar apenas lembranças...? fotografias envelhecidas... Precisei estar com ela mais perto do que isso. Não suportei.
Ao sair do palco, ouço os aplausos... e faço novamente minha oração. Dessa vez peço para que ela tenha sentido orgulho da memória que tenho dela e digo, tentando fortemente me convencer...
"é pra você".
de Lisa ELKAIM
quinta-feira, 11 de junho de 2009
Mucho gusto, me llamo...CUBA LIBRE
Os bailarinos, que estavam todos fazendo pose de agradecimento, esperando que o discurso terminasse para receber flores e aplausos do público, ficaram sem jeito, com os olhos arregalados, perplexos...
E a grande estrela do Ballet Nacional de Cuba, Alicia Alonso (hoje uma senhora de idade, cega), não entendeu o que aconteceu.
Fico imaginando a cara de cada um dos bailarinos e da própria Alicia Alonso quando alguém explicou a eles o que houve naquele momento.
E o que houve, afinal?
Ora, a manifestação e a expressão livre do descontentamento do povo com o governo.
Parece simples, mas é algo impensável para cubanos como aqueles bailarinos.
... Impensável sim. Mas somente até bem pouco tempo quando surgiu uma voz do escuro. Uma voz desafiadora. Segura e corajosa. Uma mulher. Yoani Sanchez.
Seu blog, em pouco tempo ficou conhecido nos quatro cantos do mundo. Foi um grito de liberdade logo censurado pelo governo.
Em cuba, o blog Generación Y ( http://www.desdecuba.com/generaciony/ ) não pode mais ser acessado. Mas nós, daqui do Brasil, podemos. É uma voz que precisa ser ouvida (lida) e muito aplaudida... de pé! BRAVO!
Que nos quatro cantos do mundo essa lição sirva para toda a vida: a liberdade de expressão é um tesouro precioso... e uma realidade para poucos.
Lisa ELKAIM
domingo, 7 de junho de 2009
sábado, 6 de junho de 2009
O valor da vida
O dom é o estímulo constante
estimula a arte de pensar.
O professor que sobre na mesa e fascina o estudante
desperta o dom e a arte nele adormecida.
E a aranha fiadeira?
tem tanto trabalho ao tecer sua arte, sua teia
que do fascinio adormecido, nos desperta
estimula o dom da vida.
Lisa ELKAIM
Vôo trágico nos faz repensar - Ruth de Aquino (Revista Época)
Ontem foi um dia diferente para todos nós. Um dia mais duro. Em que se acorda com a notícia de que um avião sumiu no oceano com 228 pessoas a bordo. Famílias, casais enamorados, oito crianças, um bebê, passageiros mal-humorados, outros de bem com a vida, os que tossem, os que roncam e os que não dormem. Gente que ia e gente que voltava. O avião saíra do Rio, ia para Paris, e desapareceu do radar na altura de um de nossos paraísos, o arquipélago Fernando de Noronha. Tempestade em “zona de convergência intertropical”, raios, trovões, pane elétrica, nuvens espessas – as chamadas cumulus nimbus – e o sumiço nas águas. Ou no céu. Uma das hipóteses é que o Airbus A330 da Air France tenha se desintegrado no ar antes de cair no Atlântico. Meu filho de 22 anos, candidamente, me disse, sentado a meu lado em frente ao computador. “Mãe, da próxima vez que você viajar, sei lá, olha antes a meteorologia”. Faço muito essa rota, sempre pela Air France. Vivi em Paris como correspondente vários anos. Eu respondi: filho, quando tem que ser… Há gente que passa a vida inteira sem viajar de avião por medo. E pode acabar atropelado na calçada. Vamos morrer todos um dia e, como diz um amigo meu, o psicanalista Luiz Alberto Py, “é mais saudável sentir medo do provável que do possível”. Possível tudo é. Nunca senti medo de voar. Costuma me bater uma calma até estranha quando me sento no avião. Lembro uma vez, quando viajava com meu ex-marido físico (cujas mãos ficam suadas ao voar) e ele me disse: “Não, Ruth, você está de provocação. Vai começar um capítulo do livro na hora de aterrissar?” Há dois anos, fiz um vôo de asa-delta, saltando da Pedra da Gávea, com um instrutor. Sobrevoei um vulcão no Chile com um Cessna, em dia de ventania, vendo a lava fumegante. Fiz várias “loucuras”, como descer de helicóptero militar numa zona minada em Angola em tempos de guerra, ou andar num carro dirigido pelo inglês Nigel Mansell no circuito de Interlagos com a pista molhada. Não me lembro de ter sentido medo, apenas adrenalina. O jornalista costuma ser, sim, um pouco irresponsável com a própria vida. Mas a vive com paixão. Esses passageiros que iam para Paris não faziam nenhuma loucura. Como ouvi ontem de um especialista, é mais fácil morrer voltando de táxi para casa do aeroporto, depois de perder o avião por alguma eventualidade. Cerca de 85 mil aviões comerciais decolam por dia no mundo. Este não chegou ao destino. Entre os 58 brasileiros que embarcaram no Galeão, havia, como em todos os voos, gente nascida em vários estados, de todas as idades, para quem Paris significava trabalho, prazer, volta para casa, ou simples escala de conexão. A jovem Ana Carolina, de 28 anos, trabalhava em comunidade carente no Rio com crianças e jovens envolvidos com violência armada. A família gaúcha Chem – cirurgião plástico, psicóloga e filha executiva – ia para a Grécia passar um mês de encantamento. Havia um oceanógrafo. O maestro que iria reger em Kiev, na Ucrânia. Uma cantora e dançarina. Professores universitários, engenheiros, executivos. Um deles, da Vale, ia a Paris receber um prêmio. Um Orleans e Bragança, descendente de dom Pedro II. Um casalzinho em lua de mel – a cerimônia tinha sido no sábado. Também estavam no voo 447 alguns brasileiros que voltavam para a Europa após visitar as famílias no Brasil. Mais e mais fragmentos de vida vão surgir e nos entristecer esta semana. A tragédia do Airbus A330 não apenas nos enche de dor. Ela nos confronta com nossa fragilidade. Dá medo sim. De sumir, de deixar de existir para quem amamos sem ter tempo de mandar um SMS, e de fechar precocemente a agenda da vida quando ainda há tanto a fazer. Mesmo os jovens, que se julgam imortais, imunes a quase tudo, sentem um aperto. Num momento assim, quem brigou faz as pazes. Quem se lamenta por frivolidades dá um tempo. Há uma celebração interna por estar vivo. E me invade uma tremenda vontade de continuar aproveitando tudo com intensidade. Como dizia nosso grande cronista Nelson Rodrigues, “sem paixão não dá nem pra chupar um picolé”. Você é apaixonado pela vida? Ainda tem tempo.
domingo, 24 de maio de 2009
Economia e Meio Ambiente - interesses opostos?
Por outro lado, a questão da sustentabilidade também tem sido assunto recorrente nas discussões internacionais, na mídia e por que não, na economia.
O século XXI parece viver grandes dilemas e incertezas. No entanto, qual seria o paralelo entre as questões do meio ambiente e da economia?
Para a crise financeira global, a economia propõe algumas soluções: reformar o sistema econômico, reestruturar a ordem mundial e dar novo papel aos países emergentes, reformar instituições e criar um tipo de organização financeira supranacional, reservar um fundo para causas 'ecológicamente corretas' , fala-se em responsabilidade social ou socio-ambiental.
O meio ambiente também propõe suas alternativas como o uso de energias limpas e renováveis, redução de gases poluentes, tratamento do lixo e da água, preservação dos ecossistemas, etc.
Cada um estabeleceu suas prioridades e o mundo parece não saber responder a quem cabe o desafio. Antes de responder a esta pergunta, porém, pensemos qual é o ponto em comum para resolver as duas situações de crise?
Para a Professora de Políticas de Meio Ambiente da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Joelma Cavalcante de Souza, as duas crises deram-se por um fator em comum: o uso desenfreado de recursos finitos. “Para o caso da crise financeira, falamos em dinheiro e no caso do meio ambiente, em recursos naturais. Em ambos os casos, o problema remete, portanto, ao consumo”, diz.
Sob o ponto de vista ambiental, a crise econômica teve efeitos positivos sobre o meio ambiente na medida em que a população demandou menos energia. Fábricas cuja energia estava baseada no carvão (um dos maiores poluentes do planeta) fecharam suas portas na China e, nos Estados Unidos, a população desempregada gastou menos combustível (símbolo da economia suja). Isso representou simultaneamente algum alívio para o planeta e uma redução na atividade econômica.
Isso não significa, não entanto, que as políticas climáticas defendem a pobreza. A idéia é que as questões globais devem ser pensadas em conjunto. Cometemos um erro ao considerar que a economia e o meio ambiente têm interesses opostos. E isso tem sido levado cada vez mais em conta nos debates e acordos internacionais. O mundo parece estar aderindo à idéia de que há uma relação direta entre economia, alternativas de crescimento e o meio ambiente. E a equação é simples: quanto mais tecnologias o homem desenvolve, mais recursos naturais (sujos e baratos) precisa consumir. A discussão acerca do uso de energias renováveis lançada por ambientalistas e retomada por economistas, parece ser uma boa saída. Estes recursos , no entanto, representam uma alternativa de alto custo. É preciso criar formas de crescer e aumentar as riquezas sem agredir o planeta. Para tal, o uso desses recursos precisa ser pensado de forma ampla e não apenas do ponto de vista econômico. Assim, o colapso financeiro poderia revelar uma oportunidade de crescimento econômico movido a energia limpa.
Outro exemplo de como a economia e o meio ambiente podem trabalhar juntos, é o planejamento de uma economia verde, através do recálculo do Produto Interno Bruto (PIB), levando-se em conta fatores como a qualidade de vida, a saúde, os serviços ambientais e a degradação do meio ambiente (diminuição de recursos naturais). Para Joelma Cavalcante de Souza, se estes fatores ‘verdes’ forem contabilizados no novo cálculo, grande parte dos desacordos entre economia e meio ambiente minimizam-se. “Sobre a questão das emissões, se incitarmos sua diminuição, o ar seria de melhor qualidade e a esperança de vida poderia aumentar, bem como a qualidade de vida da população do planeta. Tudo isso deveria fazer parte das preocupações bem como dos novos índices econômicos”, afirma a professora da FGV.
O desafio de hoje é ter medidas melhores que atraiam nossa atenção para o que é importante – o bem estar comum. Isso é o desenvolvimento sustentável, uma resposta que vai além da conscientização.
Neste contexto, o comunicador exerce um papel fundamental que não se limita a transmitir informações. Ele deve discuti-las, problematizá-las e eventualmente, colocar-se na função de denunciador.
O gerente de projetos sociais da rede Globo diz que a emissora já cumpre essa tarefa através de programas e reportagens especiais que visam dar a devida importância ao tema, informar e denunciar práticas criminosas contra o meio ambiente.
Já para o jornalista ambiental André Trigueiro, o esforço a se fazer vai muito além. “É preciso educar a população para que ela possa entender de fato a relevância em se discutir o tema. Do contrário, não será possível atingir uma mudança de hábitos (domésticos) satisfatória”.
Assim, chegamos à primeira pergunta levantada: A quem cabe a responsabilidade, o desafio?
Ora, aos líderes mundiais, à própria sociedade, às empresas, às escolas... E o dever de nunca deixar morrer o debate, ao comunicador, livre de quaisquer interesses econômicos ou políticos.
Por, Lisa ELKAIM
domingo, 3 de maio de 2009
Crise sobre uma identidade: o caso da Islândia.
Até 1945, fim da Segunda Guerra, a Islândia era considerada um dos países mais pobres da Europa. Em 1991, no entanto, a economia e a identidade islandesa mudariam em conseqüência das propostas radicais do Primeiro Ministro eleito, David Oddsson. O político que se tornaria um dos mais populares e poderosos da história da pequena ilha privatizou a empresa municipal de pesca, aboliu e reduziu alguns impostos e começou ali, a dar à Islândia uma dívida alta. A economia islandesa estava alicerçada em bancos e na moeda estrangeira. A filosofia que dominava já não era a do ‘coletivo’, mas a de ‘utrás’ – expressão incorporada ao vocabulário para designar a ex-vasão pretendida pela ilha de vikings.
O cenário havia se transformado: muita riqueza concentrada nas mãos de poucos, os islandeses tiveram pela primeira vez, acesso a crédito, tinham ganhado autoconfiança. Tudo isso era algo inédito e tais anseios não correspondiam ao espírito de uma população anteriormente tão obstinada.
Era o inicio da derrocada ou será que apenas estavam seguindo uma espécie de ‘tendência global’ para fugir do isolamento – tendo em vista o avanço da era da globalização, a queda do bloco soviético em 91 e da transformação do mundo em um sistema unipolar e capitalista?
Ninguém questionaria as medidas, pois estas pareciam funcionar. A economia havia respondido, a renda das famílias cresceu e o país seria apontado, em 2007, pela Organização das Nações Unidas (ONU) como melhor país para se viver, superando a Noruega.
Um ano depois, em outubro de 2008, porém, a Islândia seria considerada um dos países mais afetados pela crise mundial, com uma das economias mais devedoras, entrando para a lista de países terroristas do Primeiro Ministro britânico Gordon Brown. “Não se tratava de uma instituição financeira ou de um setor da indústria, mas de uma nação na bancarrota”, escreveu João Moreira Salles para a Revista Piauí.
Nesse contexto, como ficaria a questão da identidade islandesa, antes tão sedimentada? Teria sido o caso de uma ambição desmedida ou um passo de afirmação nacional, seguindo a lógica do ‘utrás’?
E lá estava ele, o Primeiro Ministro Geir Haarde, em outubro do ano passado, para falar com seu povo. O discurso durou cerca de onze minutos e foi transmitido pelos canais abertos. Ao encerrar, disse “Deus abençoe a Islândia”, um pedido que lembra o lema dos Estados Unidos “In God We Trust”(Em Deus, Confiamos). Embora haja controvérsias sobre o uso de menções e apologias religiosas em discurso político, o Primeiro Ministro parece ter apelado num ato de desespero, à união das pessoas para resolver uma situação de crise. A população estava completamente desmoralizada frente aos outros países, mas frente a si mesma também.

Um povo outrora tão sensato e independente, tachado de terrorista, devedor de muito dinheiro e sem possuir mais nenhum bem, parecia ainda procurar alguma explicação ou metáfora que traduzisse seu sentimento de perda, de humilhação e abandono.
Não havia ninguém para prestar alguma satisfação. Os banqueiros fugiram do país. Os políticos ignoravam manifestações e protestos da sociedade. A população começou a responder como podia, estampando uma caricatura de Oddsson, com bigode de Hitler e uma frase do tipo “Banana Republic”. Os islandeses sentiam-se traídos.
Apegaram-se a um falso protecionismo, a uma esperança e promessa de prosperidade e riqueza. Foram ambiciosos porque cometeram excessos e ingênuos, porque não questionaram as mudanças radicais do Ministro David Oddsson. Pagaram o preço e perderam muito mais do que dinheiro.
Passaram por cima de valores, da própria cultura e tradições.
O projeto de transformar a Islândia, pequena ilha auto-suficiente, numa potência era insustentável e falho. A política de ‘utrás’ custou caro, pois os anseios de empreendedorismo não combinavam com o espírito viking islandês.
Por, Lisa Elkaim.
quinta-feira, 30 de abril de 2009
Conhecer e pensar o mundo... é uma tarefa que pode e deve estar ao alcance de todos!
Outro problema decorrente deste primeiro é que, com isso, também é afetada a biodiversidade. Então, de maneira simples e resumida, temos espécies em extinção. Por que isso é grave? Bem, porque afeta no ciclo de vida de outras espécies (cadeia alimentar). Ainda em relação ao nosso mau comportamento e hábitos, temos outro exemplo quanto ao desflorestamento, que também emite CO2.
Em linhas gerais, pensemos que isso tudo nos é prejudicial porque a qualidade de vida, a esperança de vida e qualidade do ar são piores – esses dados dizem respeito a fatores econômicos e portanto, há sim interesses comuns entre economia e meio ambiente.

O aquecimento global antes representava um fenômeno incerto e pouco discutido. Ao longo dos anos, essa questão tem ganhado importância e foram estabelecidos alguns acordos para tentar dominar a situação que se apresentava. Esses tratados, no entanto, não parecem ser suficientes se não houver, paralelamente, um trabalho de educação e conscientização das pessoas.


Cuide do que é nosso...Nossa conscientização e mudança de hábitos é fundamental para salvarmos nosso planeta. Reduzirmos as emissões de poluentes que provocam o aquecimento da Terra, reciclarmos o lixo que pode ser reaproveitado, economizar água, preservar reservas florestais do nosso país e a biodiversidade da nossa natureza (rios e bichos), o uso consciente dos recursos naturais... está ao nosso alcance!
Por, Lisa ELKAIM
terça-feira, 21 de abril de 2009
Au revoir, M. Sarkozy...

segunda-feira, 20 de abril de 2009
Laicidade: um principio legitimo?

Para entender melhor a posição do filósofo, veremos, num primeiro momento, em que medida o Estado deve ser neutro no que diz respeito à religião, para não deslegitimar seu próprio poder. Num segundo momento, tentaremos identificar os mecanismos para fazer frente a uma sociedade plural sem, para tanto, privilegiar uma determinada religião em detrimento de outras.
O princípio da laicidade na França se insere em um dos valores que fundaram a sociedade e a República.
Não é um papel que cabe apenas ao governo. É algo muito mais amplo que deve tocar a sociedade.
O Estado não deve influenciar com pretexto de “liberdade de cultos”. Cada um deve ser livre para seguir sua fé e crença.
A neutralização das instituições públicas em relação às religiões parece difícil de atingir. Mas é importante não privilegiar nenhuma religião por meio destes princípios que regem a República, para não desrespeitar outras e não deslegitimar sua própria autoridade e poder.
quinta-feira, 16 de abril de 2009
Uma manhã na CBN, com Milton Jung.
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sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009
A arte da crônica - José Carlos Mendes Brandão
Mas que é uma crônica? O dicionário é impreciso. Lemos: “narração histórica segundo a ordem em que os fatos vão-se dando” ou “noticiário dos jornais”. Só que isso é história. São os velhos cronicões. São fatos subordinados inteiramente ao tempo: passa-se o tempo, morre o interesse. São impessoais, a notícia é que é importante. Mas talvez por aí possa-se definir um outro tipo de crônica, jornalístico-literária, individual e atemporal.
É quando há a marca inconfundível do autor. É quando os fatos são mais pretexto, para devaneios, considerações pessoais, testemunho humano, e mais vale a maneira de o cronista ver e dizer as coisas, mais vale a sua personalidade, o que diz sobre o que acontece, não o acontecimento por si mesmo.
Para se compreender melhor a crônica é preciso remontar ao velho ensaio francês, que não é o ensaio que conhecemos (estudo, análise, pesquisa, com os instrumentos da ciência) e sim um testemunho, uma opinião, uma determinada visão do mundo. Assim pode-se compreender o ensaio de Montaigne ou de Camus. Assim pode-se compreender por que se diz que “Terra dos Homens” de Saint-Exupéry não é um romance, são cinco ensaios: narrativa de sua experiência, testemunho da vida e dos homens. Pouco me importam Mermoz ou Guillaumet ou o próprio Saint-Exupéry: já morreram. Importa-me a sua grandeza humana, que conheço através de uma linguagem poética, de profundidade filosófica disfarçada na simplicidade de quem viu o mundo com clareza, do alto das nuvens, “acima da ignorância e estupidez humana.”
Morreu o escritor: seus livros continuam a nos interessar e a nos ensinar. Morreu o nosso Machado de Assis: suas crônicas ainda nos divertem e nos dão lições, em seu tom gracioso, irônico-humorístico, jocoso, como quem não quer nada com nada, de que o tempo passa e nós passamos por ele. Morreu Stanislaw Ponte Preta: também permanece através de um outro tipo de crônica, contando-nos casos divertidíssimos da tragicomédia cotidiana.
Mas eu falava da dificuldade da crônica. O próprio Machado, que soube dar um movimento à crônica para manter o leitor sempre interessado, talvez atraia espíritos ou mais finos ou mais cultos: suas crônicas são intelectuais, revestem-se de fineza filosófica. Certo que a crônica precisa do leitor de crônica. Certo que há vários tipos de crônica e que um jornal precisa de todos eles. Mais certo que a crônica antes de, ou para ser crônica, é jornalismo, e deve-se subordinar às regras do jornal, oferecer ao leitor o que ele espera. E, então, prefere-se um Fernando Sabino, contista do cotidiano, descobridor do saboroso e pitoresco dos pequenos casos com que topamos todo dia. Como Stanislaw Ponte Preta, que era mais divertido, mais solto, mais observador dos fatos, e mais cronista, mais jornalista.
Falou-se muito de Rubem Braga como nosso melhor cronista. Amo as suas crônicas, de um encanto especial, algo que eu definiria como poesia da virilidade – poesia da infância, da natureza, mas sempre o encanto do homem maduro, forte e terno, fraco e sábio, sabedor de sua fraqueza e da grandeza das coisas simples da vida. Mas os poetas, Drummond, Bandeira, Cecília, Vinicius também deram excelentes cronistas, contando casos densos, ou somente conversando, mas com um peso e com uma leveza especial de linguagem.
Nos anos 70 Carlos Eduardo Novaes e Lourenço Diaféria se afirmam como grandes cronistas. Novaes vê a política de então como verdadeira comédia. Ri e faz rir. Nada tem sentido. Num momento tão conturbado o riso é o melhor remédio. Numa linguagem simples e direta, põe em ebulição a comédia política brasileira. Descendente direto de Stanislaw Ponte Preta, perde para este enquanto criador de tipos e de uma linguagem que detecta a transformação da sociedade carioca e nacional, bafejada pelo ridículo a cada passo, – mas é sempre contundente, pela atualidade de seus temas, tratados com graça e descontração (essa atualidade dos temas, para a época, talvez tornem essas crônicas, hoje, fora de época).
Já Lourenço Diaféria deu uma sumida, depois de andar mais e mais em alta; “Herói. Morto. Nós”, uma crônica sua, muito boa, humana criativa, do autor no auge da sua técnica, essa técnica que nem aparece, de tão bem trabalhada que é, ofendeu os donos do poder, que não podiam conceber que um deles, mas um simples sargento, valesse mais como herói do que os heróis de pedra; talvez tenha tido um quê a mais de violento em sua linguagem, mas era próprio do período; mais um pouquinho e viria a distensão, mas os donos do poder não poderiam tolerar, e os donos do outro poder, uma das seções do 4o poder, a valorosa imprensa, foram fracos e ele acabou afastado de suas fileiras; o que não matou o cronista, logo escrevendo aqui e ali, depois desenvolvendo o seu amor pelas ruas da paulicéia, como um poeta de férias em seu lar, e trabalhando.
A crônica não pára. Agora temos os cronistas da internet, os leitores de crônica que não se contentam em ser apenas leitores, querem opinar, querem criar. Como quem fazia um diário, dando o seu testemunho para si mesmo, às vezes publicando ou sendo publicado, e, se esse diarista fosse um Kafka, um Dostoievski, um Gide, ou fosse um Valéry escrevendo seus cahiers, apresentava ao mundo uma obra de valor; como quem fazia um diário, esses cronistas fazem suas crônicas, que têm a vantagem de ter a obrigação de ser bem-feitas, de se inventarem uma forma, que as limita e engrandece.
É difícil dizer qual tipo de crônica agrada mais. Tudo depende das circunstâncias, da hora e lugar. Acontece também que o cronista escreve semanalmente e até diariamente, e os melhores cronistas são obrigados a apresentar páginas fraquíssimas. Mas certamente, em Novaes, Stanislaw ou Diaféria, em Rubem Braga, Fernando Sabino ou Drummond, nos vivos e nos mortos, encontramos a crônica que nos diz alguma coisa. Nos vivos e nos mortos, que, lembrando Ezra Pound, a literatura é notícia que permanece, e se é literatura e não apenas jornalismo, a crônica permanece.
O bom cronista pode estar desatualizado, tratar de fatos há muito passados, e no entanto agradar, divertir, comover, interessar. Como um Machado de Assis, que escrevia há cem anos, e na sua pior página tem sempre um parágrafo, uma frase, um dito espirituoso que provocará o leitor de hoje e de amanhã.
Disponível em: http://www.blocosonline.com.br/literatura/prosa/cron/cb/2003/030222.htm ; Acessado em 27/02/2009 às 15h20.
Observação: Leiam o texto "Quando crescer... NÃO quero ser como você" que escrevi.
quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009
Quando eu crescer... NÃO quero ser como você.
Mas há momentos em que é a cabeça que precisa de um tempo. Se estivermos com a imunidade baixa e o corpo cansado, é simples: ficamos doentes. Mas se é cabeça, parece que ao invés de relaxarmos, pensamos mais, nos questionamos mais, etc.
É o que se passou comigo esta semana. Não falo de problemas de âmbito pessoal. Estes nos afetam, nos deixam para baixo, mas passam... Não passam? Falo aqui de coisas que ouvimos, vemos ou vivemos e que depois não saem da nossa cabeça.
Decidi estudar para ser jornalista. Estou certa que é disso que gosto e que serei boa nisso. Entendo que tenho como que uma missão a cumprir perante a sociedade em que vivo. Sociedade esta, que me fez – entre outros fatores - o que sou hoje.
E o que sou? Bem, sou uma jovem mulher, de 20 anos. Gosto de ler, de escrever, de viajar, de conhecer pessoas e, sou também curiosa. Tenho um gênio que as vezes pode ser dificil de dobrar, tenho minhas convicções e ideologias. Gosto de parecer forte...
Eis o conflito de uma estudante de jornalismo: decepcionei-me com algo que ouvi depois de ter produzido um bom texto. Ao terminei de escrever fiquei satisfeita, tinha gostado de verdade do que eu tinha feito. É como se eu tivesse caído em mim e me dado conta de que posso ser tão pequena e impotente diante de algo tão grande e, ao mesmo tempo, sem dimensão.
Eu me explico: acho que os jornalistas não devem se contentar em contar histórias, apenas. Há um papel por trás disso. Fala-se da vida das pessoas e não tem o menor senso crítico para julgar ou comentar. Formamos opinião, mas não ensinamos a população a pensar por si própria, por quê? Ah, sim. Porque nos convém e é mais cômodo que seja (e continue sendo) assim.
O que estou fazendo numa universidade ?
É como dar-se conta de que, não importa o que ou o quanto você faça, sempre será insuficiente.
Mas como eu disse, gosto de parecer forte e ainda acrescentaria que sou uma pessoa inquieta, insatisfeita. Então tenho duas opções: submeter-me ou não.
A população brasileira não é burra, mas não tem escolha. E o jornalista brasileiro (assim como a própria população) merece mais reconhecimento, espaço e respeito. Penso no caso da França, por exemplo, os jornalistas são vistos e respeitados como intelectuais (e não contadores de história). Lá, o mesmo fulano que escreve um artigo no Le Monde, é também sociólogo, psicólogo, historiador ou economista.
Foi então que decidi me especializar (em meio ambiente e desenvolvimento sustentável). Primeiro porque me diferenciaria de todos os outros (a maioria) que não sabem do que falam. “Deu-s, perdoai-os, eles não sabem do que falam”.
E depois porque daria mais credibilidade ao leitor ao mesmo tempo em que eu, luto pelo que acredito.
E no que eu acredito? Bem, de maneira bem simples, resume-se a: falar com a propriedade de alguém que entende e tem um engajamento cívico, sem tomar o outro por um idiota.
Talvez eu ainda seja muito jovem e ainda descubra o que quero ser. Mas sei bem no que não quero me tornar.
(Sugestão: leiam meu comentário no fim do texto).
Lisa ELKAIM
sábado, 14 de fevereiro de 2009
A utopia européia: A luta por uma Europa unida e a crise sobre uma identidade.
(contextualização) Introdução
Apesar de existir há séculos, a Europa tem buscado permanentemente um identidade, um significado e até mesmo, uma essência à sua existência. Seus cidadãos devem reconhecer-se mutuamente enquanto membros de algo em comum ou devem valorizar o nacionalismo, preservar sua língua e costumes? Que valores determinarão a identidade européia?
No atual contexto da Europa, de sucessivos alargamentos – os dois últimos, de 2004 abrangendo dez países e o de 2007 incluindo dois novos membros, tendo sido os mais importantes, há de se questionar sobre o papel que este continente ou bloco (e se bloco, econômico ou político) deve exercer sobre as sociedades, se deve acompanhar o modelo americano ou se tem alguma “missão” de caráter mais humano a cumprir.
Esses debates propostos acima levam em conta apenas um lado: o que a sociedade, de forma geral, espera da Europa. No entanto, é preciso entender e conhecer o continente, saber discernir a Europa e a União Européia, ainda que a segunda encontre suas raízes na história de um continente perturbado tanto na sua história como na sua geografia.
A nossa problemática nasce de duas principais questões: como passar de uma Europa limitada geograficamente, destruída após a guerra e de nacionalismos exacerbados a uma Europa alargada e integrada e por outro lado, como os sucessivos alargamentos afetam a identidade do povo europeu.
Assim, torna-se importante levar em conta alguns aspectos relativos à formação da Europa como, por exemplo, o desejo (do ponto de vista dos fundadores, mas também dos europeus) de construir um terceiro bloco num contexto anteriormente bipolar.
Nesse cenário, estariam os europeus dispostos a assumir um destino em comum? Se analisarmos o caso de referendo votado na França em 2005 para uma constituição européia, talvez se chegasse à conclusão de que a Europa não era um objeto de desejo, e talvez até nem devesse assumir este papel.
Então, o que é a Europa e quem são os europeus, afinal? Pois, se esta tem vocação para abraçar qualquer país que se adéqüe às suas “imposições”, logo a Europa não poderá mais definir suas fronteiras. E então, a questão da identidade, já discutida e reivindicada, se agravaria.
Neste caso, o que seria do projeto europeu, que tinha por missão estabelecer a paz entre os povos através da união? A luta por uma Europa unida, povos unidos e identidades não agredidas, parece um tanto utópica se estes povos não chegarem a se ver como “irmãos”.
Lisa ELKAIM
domingo, 18 de janeiro de 2009
GUERRAS JUSTAS ?
Paradoxalmente temos o que um dos mandamentos nos ensina “não matarás” e a doutrina católica que afirmaria “se queres paz, prepara-te para a guerra”.
I. A guerra seria inerente à humanidade?
Diversos filósofos clássicos tentaram descrever a natureza humana. Para Machiavel, por exemplo, a guerra existe devido ao fato dos homens serem maus por natureza e instintivamente. Hobbes, dirá que a natureza humana é individualista e que se não houver poder ou soberania para defender a si mesmo e aos seus interesses, a tendência é a barbárie. Freud também explicou que a guerra ressaltava o homem primitivo que há em cada um e que isso não pode ser eliminado. “Enquanto os povos tiverem condições de existência e sobrevivência tão diferentes, necessariamente haverá guerras” – escreveu.
II. A guerra destrói a idéia de desenvolvimento da humanidade com a perspectiva humanista. Como conviver com a guerra, admitindo-se que esta faça parte da natureza humana?
Regras e limites terão de ser estabelecidos. Daí a importância de contarmos com organismos internacionais que procuram mediar estes conflitos. A influência dos outros países que se utilizam de sua soberania ou até mesmo do uso de força (militar) e a pressão internacional intercedem, por exemplo, ao pedir cessar fogo ou ao tentar acordos de paz. Até mesmo a mídia tem papel muito importante em momentos de crise, pois exerce sua função de denunciar, comunicar à população mundial, entregar fotos, arquivos, etc.
No entanto, por regras e limites estabelecidos, subentende-se que há direitos na guerra. Estes direitos seriam de fato respeitados? Como avaliar, enfim, uma guerra justa? Seria uma questão “pessoal” ou moral?
III. A paz é um objetivo tangível e legítimo?
É, antes de tudo, em função do objetivo político que uma guerra poderá ser considerada como instrumento de pacificação.
Para Clausewitz, a guerra seria uma continuação da política por outros meios. A guerra seria, tal como ele a definia, um ato de violência cuja intenção é compelir o adversário a executar nossa vontade.
A concepção de guerra justa nasce na doutrina católica que admite três razões para tal:
a) Que a guerra seja iniciada por uma autoridade legítima
b) Que aqueles que são atacados tenham merecido por meio de uma falta grave, o ataque.
c) Que as guerras não sejam feitas por crueldade, mas para punir os maus e proteger os bons.
A concepção de guerra justa é ainda dividida em duas categorias:
a) JUS AD BELLUM – Direito de fazer guerra. Uma guerra justa é engajada por uma autoridade legitima em nome de uma “causa justa”, convencer de sua própria causa e da injustiça da ofensiva inimiga.
b) JUS IN BELLUM – Direito dentro da guerra. A guerra deve ser guiada co respeitos às regras de conduta estabelecidas e acordadas nas duas partes. Por exemplo, sobrevivência de prisioneiros e respeito aos civis. Trata-se de usar a força apenas proporcionalmente aos objetivos e à injustiça enfrentada.
Lisa ELKAIM


