Até 1945, fim da Segunda Guerra, a Islândia era considerada um dos países mais pobres da Europa. Em 1991, no entanto, a economia e a identidade islandesa mudariam em conseqüência das propostas radicais do Primeiro Ministro eleito, David Oddsson. O político que se tornaria um dos mais populares e poderosos da história da pequena ilha privatizou a empresa municipal de pesca, aboliu e reduziu alguns impostos e começou ali, a dar à Islândia uma dívida alta. A economia islandesa estava alicerçada em bancos e na moeda estrangeira. A filosofia que dominava já não era a do ‘coletivo’, mas a de ‘utrás’ – expressão incorporada ao vocabulário para designar a ex-vasão pretendida pela ilha de vikings.
O cenário havia se transformado: muita riqueza concentrada nas mãos de poucos, os islandeses tiveram pela primeira vez, acesso a crédito, tinham ganhado autoconfiança. Tudo isso era algo inédito e tais anseios não correspondiam ao espírito de uma população anteriormente tão obstinada.
Era o inicio da derrocada ou será que apenas estavam seguindo uma espécie de ‘tendência global’ para fugir do isolamento – tendo em vista o avanço da era da globalização, a queda do bloco soviético em 91 e da transformação do mundo em um sistema unipolar e capitalista?
Ninguém questionaria as medidas, pois estas pareciam funcionar. A economia havia respondido, a renda das famílias cresceu e o país seria apontado, em 2007, pela Organização das Nações Unidas (ONU) como melhor país para se viver, superando a Noruega.
Um ano depois, em outubro de 2008, porém, a Islândia seria considerada um dos países mais afetados pela crise mundial, com uma das economias mais devedoras, entrando para a lista de países terroristas do Primeiro Ministro britânico Gordon Brown. “Não se tratava de uma instituição financeira ou de um setor da indústria, mas de uma nação na bancarrota”, escreveu João Moreira Salles para a Revista Piauí.
Nesse contexto, como ficaria a questão da identidade islandesa, antes tão sedimentada? Teria sido o caso de uma ambição desmedida ou um passo de afirmação nacional, seguindo a lógica do ‘utrás’?
E lá estava ele, o Primeiro Ministro Geir Haarde, em outubro do ano passado, para falar com seu povo. O discurso durou cerca de onze minutos e foi transmitido pelos canais abertos. Ao encerrar, disse “Deus abençoe a Islândia”, um pedido que lembra o lema dos Estados Unidos “In God We Trust”(Em Deus, Confiamos). Embora haja controvérsias sobre o uso de menções e apologias religiosas em discurso político, o Primeiro Ministro parece ter apelado num ato de desespero, à união das pessoas para resolver uma situação de crise. A população estava completamente desmoralizada frente aos outros países, mas frente a si mesma também.

Um povo outrora tão sensato e independente, tachado de terrorista, devedor de muito dinheiro e sem possuir mais nenhum bem, parecia ainda procurar alguma explicação ou metáfora que traduzisse seu sentimento de perda, de humilhação e abandono.
Não havia ninguém para prestar alguma satisfação. Os banqueiros fugiram do país. Os políticos ignoravam manifestações e protestos da sociedade. A população começou a responder como podia, estampando uma caricatura de Oddsson, com bigode de Hitler e uma frase do tipo “Banana Republic”. Os islandeses sentiam-se traídos.
Apegaram-se a um falso protecionismo, a uma esperança e promessa de prosperidade e riqueza. Foram ambiciosos porque cometeram excessos e ingênuos, porque não questionaram as mudanças radicais do Ministro David Oddsson. Pagaram o preço e perderam muito mais do que dinheiro.
Passaram por cima de valores, da própria cultura e tradições.
O projeto de transformar a Islândia, pequena ilha auto-suficiente, numa potência era insustentável e falho. A política de ‘utrás’ custou caro, pois os anseios de empreendedorismo não combinavam com o espírito viking islandês.
Por, Lisa Elkaim.
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