domingo, 24 de maio de 2009

Economia e Meio Ambiente - interesses opostos?

A crise econômica mundial que afeta o mundo desde setembro de 2008 é entendida por Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel da Economia em 2001, como conseqüência de anos de políticas econômicas equivocadas. A revista Época do mês de Abril também tratou do tema, afirmando que houve uso indevido de recursos finitos – o dinheiro.

Por outro lado, a questão da sustentabilidade também tem sido assunto recorrente nas discussões internacionais, na mídia e por que não, na economia.

O século XXI parece viver grandes dilemas e incertezas. No entanto, qual seria o paralelo entre as questões do meio ambiente e da economia?

Para a crise financeira global, a economia propõe algumas soluções: reformar o sistema econômico, reestruturar a ordem mundial e dar novo papel aos países emergentes, reformar instituições e criar um tipo de organização financeira supranacional, reservar um fundo para causas 'ecológicamente corretas' , fala-se em responsabilidade social ou socio-ambiental.
O meio ambiente também propõe suas alternativas como o uso de energias limpas e renováveis, redução de gases poluentes, tratamento do lixo e da água, preservação dos ecossistemas, etc.

Cada um estabeleceu suas prioridades e o mundo parece não saber responder a quem cabe o desafio. Antes de responder a esta pergunta, porém, pensemos qual é o ponto em comum para resolver as duas situações de crise?

Para a Professora de Políticas de Meio Ambiente da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Joelma Cavalcante de Souza, as duas crises deram-se por um fator em comum: o uso desenfreado de recursos finitos. “Para o caso da crise financeira, falamos em dinheiro e no caso do meio ambiente, em recursos naturais. Em ambos os casos, o problema remete, portanto, ao consumo”, diz.

Sob o ponto de vista ambiental, a crise econômica teve efeitos positivos sobre o meio ambiente na medida em que a população demandou menos energia. Fábricas cuja energia estava baseada no carvão (um dos maiores poluentes do planeta) fecharam suas portas na China e, nos Estados Unidos, a população desempregada gastou menos combustível (símbolo da economia suja). Isso representou simultaneamente algum alívio para o planeta e uma redução na atividade econômica.

Isso não significa, não entanto, que as políticas climáticas defendem a pobreza. A idéia é que as questões globais devem ser pensadas em conjunto. Cometemos um erro ao considerar que a economia e o meio ambiente têm interesses opostos. E isso tem sido levado cada vez mais em conta nos debates e acordos internacionais. O mundo parece estar aderindo à idéia de que há uma relação direta entre economia, alternativas de crescimento e o meio ambiente. E a equação é simples: quanto mais tecnologias o homem desenvolve, mais recursos naturais (sujos e baratos) precisa consumir. A discussão acerca do uso de energias renováveis lançada por ambientalistas e retomada por economistas, parece ser uma boa saída. Estes recursos , no entanto, representam uma alternativa de alto custo. É preciso criar formas de crescer e aumentar as riquezas sem agredir o planeta. Para tal, o uso desses recursos precisa ser pensado de forma ampla e não apenas do ponto de vista econômico. Assim, o colapso financeiro poderia revelar uma oportunidade de crescimento econômico movido a energia limpa.

Outro exemplo de como a economia e o meio ambiente podem trabalhar juntos, é o planejamento de uma economia verde, através do recálculo do Produto Interno Bruto (PIB), levando-se em conta fatores como a qualidade de vida, a saúde, os serviços ambientais e a degradação do meio ambiente (diminuição de recursos naturais). Para Joelma Cavalcante de Souza, se estes fatores ‘verdes’ forem contabilizados no novo cálculo, grande parte dos desacordos entre economia e meio ambiente minimizam-se. “Sobre a questão das emissões, se incitarmos sua diminuição, o ar seria de melhor qualidade e a esperança de vida poderia aumentar, bem como a qualidade de vida da população do planeta. Tudo isso deveria fazer parte das preocupações bem como dos novos índices econômicos”, afirma a professora da FGV.

O desafio de hoje é ter medidas melhores que atraiam nossa atenção para o que é importante – o bem estar comum. Isso é o desenvolvimento sustentável, uma resposta que vai além da conscientização.

Neste contexto, o comunicador exerce um papel fundamental que não se limita a transmitir informações. Ele deve discuti-las, problematizá-las e eventualmente, colocar-se na função de denunciador.

O gerente de projetos sociais da rede Globo diz que a emissora já cumpre essa tarefa através de programas e reportagens especiais que visam dar a devida importância ao tema, informar e denunciar práticas criminosas contra o meio ambiente.

Já para o jornalista ambiental André Trigueiro, o esforço a se fazer vai muito além. “É preciso educar a população para que ela possa entender de fato a relevância em se discutir o tema. Do contrário, não será possível atingir uma mudança de hábitos (domésticos) satisfatória”.
Assim, chegamos à primeira pergunta levantada: A quem cabe a responsabilidade, o desafio?

Ora, aos líderes mundiais, à própria sociedade, às empresas, às escolas... E o dever de nunca deixar morrer o debate, ao comunicador, livre de quaisquer interesses econômicos ou políticos.


Por, Lisa ELKAIM

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