Num momento em que novas tecnologias digitais surgem em grande escala e ocupam cada vez mais espaço no (ou sobre) jornalismo, a profissão vem sendo desvalorizada e colocada em questão. Este foi o tema central do 7º Congresso da Associação Nacional de Jornais (ANJ) e 33º Congresso Nacional de Jornalistas, promovido pela Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj), ambos em São Paulo.
No ano em que a imprensa brasileira comemora 200 anos, os eventos que reuniram, respectivamente, 800 e 300 pessoas, defenderam não somente o diploma como o papel e a responsabilidade social do jornalista.
Assim como o futuro do jornal impresso, o futuro da profissão também tem deixado alguns jornalistas inquietos. Trata-se primeiro de uma mudança na grade curricular dos cursos de jornalismo e em seguida de uma regulamentação profissional. O desafio é tentar antecipar-se para descobrir em que medida os dois vão caminhar juntos e portanto, se haverá prejuizo para os alunos e jovens profissionais. Essa regulamentação poderá ser entendida como « forma de dar garantias mínimas para a dignidade no trabalho dos jornalistas e para a liberdade de imprensa e o direito à infomação », diz Guto Camargo, presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo (SP), em entrevisa à revista Imprensa.
Ao tomar-se como exemplo a mais nova tendência do jornalismo, o chamado ‘jornalismo colaborativo’, no qual o público tem participação na produção da notícia e atua como um verdadeiro repórter, alguns defenderão que não passa de uma espécie de tentativa de desvalorizar a profissão.
Em entrevista concedida no dia 23 de outubro, na Universidade Anhembi Morumbi, o coordenador do curso, Nivaldo Ferraz diz acreditar que o jornalismo colaborativo não é regra de mercado mas que devido o grande avanço de mídias digitais, faz parte da atuação de jornalista adaptar-se. « É uma onda, que morre daqui a pouco », afirma.
Em termos de mídias digitais ainda pode-se citar como exemplo, os blogs. De acordo com a Revista Imprensa, em 2004 foram detectados cerca de 4 milhões de blogs e hoje, este número cresceu em 2720%. No entanto, num espaço que não tem limites, a internet, e onde qualquer pessoa pode criar e escrever o que quiser, como distinguir entretenimento, informação, jornalismo ? O leigo que estiver fazendo uma pesquisa, não necessariamente tem seu ‘instinto jornalístico’ apurado e provavelmente não irá checar as informações que leu no blog. Assim, apenas pessoas formadas em jornalismo podem produzir conteúdo noticioso ? É claro que o jornalista terá mais credibilidade, mesmo ao escrever para um blog. Temos como exemplo, o jornalista Ricardo Noblat que desde 2005 trabalha na sua página (oglobo.globo.com/pais/noblat). Mas o debate está instalado : o blogueiro é o novo jornalista ?
Segundo Nivaldo Ferraz, para ser jornalista, há uma formação de base e conhecimentos teóricos que somente a universidade poderá oferecer. O candidato deve vir para a faculdade de jornalismo preparado « o curso não ensina a escrever bem, isso é nato. Tem de haver vontade, esforço e talento inicial. Depois a faculdade vai oferecer as ferramentas teóricas ». Ele afirma ainda que a diferença essencial, no meio dessa disputa entre quem tem e quem não tem diploma de jornalismo, é a capacitação em nível superior. Nesse sentido, tratando-se de novas mídias digitais, haveria uma adaptação por parte das universidades que procuram adequar seus cursos à demanda no mercado. « Sempre há espaço para o aluno que não tem interesse em trabalhar com tecnologia, mas não se pode ignorar o grande avanço e influência exercida sobre o jornalismo. Assim, a capacitação teórica e a tendência de mercado andam de mãos dadas nas universidades mais atualizadas », diz Nivaldo.
Já o jornalista e escritor Henrique Veltman, entrevistado online em 22 de outubro, defende que uma formação de nível superior é desejável, mas a formação no curso de jornalismo seria dispensável. « Nossas escolas de jornalismo (comunicação) são ruins. Acho preferível o candidato cursar Direito ou Ciências Sociais, por exemplo ». Ele explica que alguns dos mais importantes jornais e revistas já não exigem o diploma de jornalismo e cita como exemplo o jornal Folha de São Paulo.
Jornais como o Estado de São Paulo ou Folha, já promovem por conta própria cursos específicos que funcionam como uma espécie de Trainee. Nivaldo acredita que nestes casos o interesse do veículo é focado, « o objetivo é enxergar quem vai bem para ser candidato potencial a ficar na redação no término do curso, mas não se trata de um curso de formação ».
Há ainda quem defenda uma regulamentação acadêmica, no sentido de permitir que graduados em outras áreas cursem apenas dois períodos do curso de jornalismo para poder trabalhar em redações, na função de jornalista. Para o coordenador Nivaldo ferraz, isso já é possível, através da validação de créditos cursados em outras disciplinas, no entanto, qualquer outra regulamentação neste âmbito, seria especulação oriunda dos interesses das empresas jornalísticas.
Com relação ao avassalador avanço de tecnologias, notadamente do jornalismo colaborativo, Henrique Veltman diz que de fato, são os novos caminhos que a profissão deverá seguir daqui para a frente. « A rua de duas mãos é um dos caminhos do novo jornalismo, com intensa participação do público », sustenta. No entanto confessa não conhecer nehuma iniciativa específica por parte das universidades. O jornalista diz ser necessário dominar as ferramentas da tecnologia de informática e adverte que não haverá muita chance no mercado a quem não acompanhar essa corrente. « Minha sugestão aos futuros jornalistas é cursar informática onde for possível. Algumas (poucas) empresas jornalísticas já estão oferecendo, por conta própria, cursos de introdução à informática ».
Lisa ELKAIM
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