A crise econômica mundial que afeta o mundo desde setembro de 2008 é entendida por Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel da Economia em 2001, como conseqüência de anos de políticas econômicas equivocadas. A revista Época do mês de Abril também tratou do tema, afirmando que houve uso indevido de recursos finitos – o dinheiro.
Por outro lado, a questão da sustentabilidade também tem sido assunto recorrente nas discussões internacionais, na mídia e por que não, na economia.
O século XXI parece viver grandes dilemas e incertezas. No entanto, qual seria o paralelo entre as questões do meio ambiente e da economia?
Para a crise financeira global, a economia propõe algumas soluções: reformar o sistema econômico, reestruturar a ordem mundial e dar novo papel aos países emergentes, reformar instituições e criar um tipo de organização financeira supranacional, reservar um fundo para causas 'ecológicamente corretas' , fala-se em responsabilidade social ou socio-ambiental.
O meio ambiente também propõe suas alternativas como o uso de energias limpas e renováveis, redução de gases poluentes, tratamento do lixo e da água, preservação dos ecossistemas, etc.
Cada um estabeleceu suas prioridades e o mundo parece não saber responder a quem cabe o desafio. Antes de responder a esta pergunta, porém, pensemos qual é o ponto em comum para resolver as duas situações de crise?
Para a Professora de Políticas de Meio Ambiente da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Joelma Cavalcante de Souza, as duas crises deram-se por um fator em comum: o uso desenfreado de recursos finitos. “Para o caso da crise financeira, falamos em dinheiro e no caso do meio ambiente, em recursos naturais. Em ambos os casos, o problema remete, portanto, ao consumo”, diz.
Sob o ponto de vista ambiental, a crise econômica teve efeitos positivos sobre o meio ambiente na medida em que a população demandou menos energia. Fábricas cuja energia estava baseada no carvão (um dos maiores poluentes do planeta) fecharam suas portas na China e, nos Estados Unidos, a população desempregada gastou menos combustível (símbolo da economia suja). Isso representou simultaneamente algum alívio para o planeta e uma redução na atividade econômica.
Isso não significa, não entanto, que as políticas climáticas defendem a pobreza. A idéia é que as questões globais devem ser pensadas em conjunto. Cometemos um erro ao considerar que a economia e o meio ambiente têm interesses opostos. E isso tem sido levado cada vez mais em conta nos debates e acordos internacionais. O mundo parece estar aderindo à idéia de que há uma relação direta entre economia, alternativas de crescimento e o meio ambiente. E a equação é simples: quanto mais tecnologias o homem desenvolve, mais recursos naturais (sujos e baratos) precisa consumir. A discussão acerca do uso de energias renováveis lançada por ambientalistas e retomada por economistas, parece ser uma boa saída. Estes recursos , no entanto, representam uma alternativa de alto custo. É preciso criar formas de crescer e aumentar as riquezas sem agredir o planeta. Para tal, o uso desses recursos precisa ser pensado de forma ampla e não apenas do ponto de vista econômico. Assim, o colapso financeiro poderia revelar uma oportunidade de crescimento econômico movido a energia limpa.
Outro exemplo de como a economia e o meio ambiente podem trabalhar juntos, é o planejamento de uma economia verde, através do recálculo do Produto Interno Bruto (PIB), levando-se em conta fatores como a qualidade de vida, a saúde, os serviços ambientais e a degradação do meio ambiente (diminuição de recursos naturais). Para Joelma Cavalcante de Souza, se estes fatores ‘verdes’ forem contabilizados no novo cálculo, grande parte dos desacordos entre economia e meio ambiente minimizam-se. “Sobre a questão das emissões, se incitarmos sua diminuição, o ar seria de melhor qualidade e a esperança de vida poderia aumentar, bem como a qualidade de vida da população do planeta. Tudo isso deveria fazer parte das preocupações bem como dos novos índices econômicos”, afirma a professora da FGV.
O desafio de hoje é ter medidas melhores que atraiam nossa atenção para o que é importante – o bem estar comum. Isso é o desenvolvimento sustentável, uma resposta que vai além da conscientização.
Neste contexto, o comunicador exerce um papel fundamental que não se limita a transmitir informações. Ele deve discuti-las, problematizá-las e eventualmente, colocar-se na função de denunciador.
O gerente de projetos sociais da rede Globo diz que a emissora já cumpre essa tarefa através de programas e reportagens especiais que visam dar a devida importância ao tema, informar e denunciar práticas criminosas contra o meio ambiente.
Já para o jornalista ambiental André Trigueiro, o esforço a se fazer vai muito além. “É preciso educar a população para que ela possa entender de fato a relevância em se discutir o tema. Do contrário, não será possível atingir uma mudança de hábitos (domésticos) satisfatória”.
Assim, chegamos à primeira pergunta levantada: A quem cabe a responsabilidade, o desafio?
Ora, aos líderes mundiais, à própria sociedade, às empresas, às escolas... E o dever de nunca deixar morrer o debate, ao comunicador, livre de quaisquer interesses econômicos ou políticos.
Por, Lisa ELKAIM
domingo, 24 de maio de 2009
domingo, 3 de maio de 2009
Crise sobre uma identidade: o caso da Islândia.
Pense numa identidade nacional construída com base na noção de coletivo. Um país cujos bens baseavam-se num tripé: a energia geotérmica, os peixes e as sagas. Uma história de vikings e uma batalha constante pelo mínimo à sobrevivência.
Até 1945, fim da Segunda Guerra, a Islândia era considerada um dos países mais pobres da Europa. Em 1991, no entanto, a economia e a identidade islandesa mudariam em conseqüência das propostas radicais do Primeiro Ministro eleito, David Oddsson. O político que se tornaria um dos mais populares e poderosos da história da pequena ilha privatizou a empresa municipal de pesca, aboliu e reduziu alguns impostos e começou ali, a dar à Islândia uma dívida alta. A economia islandesa estava alicerçada em bancos e na moeda estrangeira. A filosofia que dominava já não era a do ‘coletivo’, mas a de ‘utrás’ – expressão incorporada ao vocabulário para designar a ex-vasão pretendida pela ilha de vikings.
O cenário havia se transformado: muita riqueza concentrada nas mãos de poucos, os islandeses tiveram pela primeira vez, acesso a crédito, tinham ganhado autoconfiança. Tudo isso era algo inédito e tais anseios não correspondiam ao espírito de uma população anteriormente tão obstinada.
Era o inicio da derrocada ou será que apenas estavam seguindo uma espécie de ‘tendência global’ para fugir do isolamento – tendo em vista o avanço da era da globalização, a queda do bloco soviético em 91 e da transformação do mundo em um sistema unipolar e capitalista?
Ninguém questionaria as medidas, pois estas pareciam funcionar. A economia havia respondido, a renda das famílias cresceu e o país seria apontado, em 2007, pela Organização das Nações Unidas (ONU) como melhor país para se viver, superando a Noruega.
Um ano depois, em outubro de 2008, porém, a Islândia seria considerada um dos países mais afetados pela crise mundial, com uma das economias mais devedoras, entrando para a lista de países terroristas do Primeiro Ministro britânico Gordon Brown. “Não se tratava de uma instituição financeira ou de um setor da indústria, mas de uma nação na bancarrota”, escreveu João Moreira Salles para a Revista Piauí.
Nesse contexto, como ficaria a questão da identidade islandesa, antes tão sedimentada? Teria sido o caso de uma ambição desmedida ou um passo de afirmação nacional, seguindo a lógica do ‘utrás’?
E lá estava ele, o Primeiro Ministro Geir Haarde, em outubro do ano passado, para falar com seu povo. O discurso durou cerca de onze minutos e foi transmitido pelos canais abertos. Ao encerrar, disse “Deus abençoe a Islândia”, um pedido que lembra o lema dos Estados Unidos “In God We Trust”(Em Deus, Confiamos). Embora haja controvérsias sobre o uso de menções e apologias religiosas em discurso político, o Primeiro Ministro parece ter apelado num ato de desespero, à união das pessoas para resolver uma situação de crise. A população estava completamente desmoralizada frente aos outros países, mas frente a si mesma também.

Um povo outrora tão sensato e independente, tachado de terrorista, devedor de muito dinheiro e sem possuir mais nenhum bem, parecia ainda procurar alguma explicação ou metáfora que traduzisse seu sentimento de perda, de humilhação e abandono.
Não havia ninguém para prestar alguma satisfação. Os banqueiros fugiram do país. Os políticos ignoravam manifestações e protestos da sociedade. A população começou a responder como podia, estampando uma caricatura de Oddsson, com bigode de Hitler e uma frase do tipo “Banana Republic”. Os islandeses sentiam-se traídos.
Apegaram-se a um falso protecionismo, a uma esperança e promessa de prosperidade e riqueza. Foram ambiciosos porque cometeram excessos e ingênuos, porque não questionaram as mudanças radicais do Ministro David Oddsson. Pagaram o preço e perderam muito mais do que dinheiro.
Passaram por cima de valores, da própria cultura e tradições.
O projeto de transformar a Islândia, pequena ilha auto-suficiente, numa potência era insustentável e falho. A política de ‘utrás’ custou caro, pois os anseios de empreendedorismo não combinavam com o espírito viking islandês.
Por, Lisa Elkaim.
Até 1945, fim da Segunda Guerra, a Islândia era considerada um dos países mais pobres da Europa. Em 1991, no entanto, a economia e a identidade islandesa mudariam em conseqüência das propostas radicais do Primeiro Ministro eleito, David Oddsson. O político que se tornaria um dos mais populares e poderosos da história da pequena ilha privatizou a empresa municipal de pesca, aboliu e reduziu alguns impostos e começou ali, a dar à Islândia uma dívida alta. A economia islandesa estava alicerçada em bancos e na moeda estrangeira. A filosofia que dominava já não era a do ‘coletivo’, mas a de ‘utrás’ – expressão incorporada ao vocabulário para designar a ex-vasão pretendida pela ilha de vikings.
O cenário havia se transformado: muita riqueza concentrada nas mãos de poucos, os islandeses tiveram pela primeira vez, acesso a crédito, tinham ganhado autoconfiança. Tudo isso era algo inédito e tais anseios não correspondiam ao espírito de uma população anteriormente tão obstinada.
Era o inicio da derrocada ou será que apenas estavam seguindo uma espécie de ‘tendência global’ para fugir do isolamento – tendo em vista o avanço da era da globalização, a queda do bloco soviético em 91 e da transformação do mundo em um sistema unipolar e capitalista?
Ninguém questionaria as medidas, pois estas pareciam funcionar. A economia havia respondido, a renda das famílias cresceu e o país seria apontado, em 2007, pela Organização das Nações Unidas (ONU) como melhor país para se viver, superando a Noruega.
Um ano depois, em outubro de 2008, porém, a Islândia seria considerada um dos países mais afetados pela crise mundial, com uma das economias mais devedoras, entrando para a lista de países terroristas do Primeiro Ministro britânico Gordon Brown. “Não se tratava de uma instituição financeira ou de um setor da indústria, mas de uma nação na bancarrota”, escreveu João Moreira Salles para a Revista Piauí.
Nesse contexto, como ficaria a questão da identidade islandesa, antes tão sedimentada? Teria sido o caso de uma ambição desmedida ou um passo de afirmação nacional, seguindo a lógica do ‘utrás’?
E lá estava ele, o Primeiro Ministro Geir Haarde, em outubro do ano passado, para falar com seu povo. O discurso durou cerca de onze minutos e foi transmitido pelos canais abertos. Ao encerrar, disse “Deus abençoe a Islândia”, um pedido que lembra o lema dos Estados Unidos “In God We Trust”(Em Deus, Confiamos). Embora haja controvérsias sobre o uso de menções e apologias religiosas em discurso político, o Primeiro Ministro parece ter apelado num ato de desespero, à união das pessoas para resolver uma situação de crise. A população estava completamente desmoralizada frente aos outros países, mas frente a si mesma também.

Um povo outrora tão sensato e independente, tachado de terrorista, devedor de muito dinheiro e sem possuir mais nenhum bem, parecia ainda procurar alguma explicação ou metáfora que traduzisse seu sentimento de perda, de humilhação e abandono.
Não havia ninguém para prestar alguma satisfação. Os banqueiros fugiram do país. Os políticos ignoravam manifestações e protestos da sociedade. A população começou a responder como podia, estampando uma caricatura de Oddsson, com bigode de Hitler e uma frase do tipo “Banana Republic”. Os islandeses sentiam-se traídos.
Apegaram-se a um falso protecionismo, a uma esperança e promessa de prosperidade e riqueza. Foram ambiciosos porque cometeram excessos e ingênuos, porque não questionaram as mudanças radicais do Ministro David Oddsson. Pagaram o preço e perderam muito mais do que dinheiro.
Passaram por cima de valores, da própria cultura e tradições.
O projeto de transformar a Islândia, pequena ilha auto-suficiente, numa potência era insustentável e falho. A política de ‘utrás’ custou caro, pois os anseios de empreendedorismo não combinavam com o espírito viking islandês.
Por, Lisa Elkaim.
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